Como a Escócia aproveita as marés para gerar energia

Plataformas transformam correntes marítimas em eletricidade e são a nova fronteira em geração de energia renovável

A Escócia é um país famoso pelas misteriosas criaturas que habitam suas águas, como a mítica Nessie, o monstro do Lago Ness. Quem se aventura de barco pelas Ilhas Orkney, um arquipélago ao norte do país britânico, pode se deparar também com outro gigante inusitado, mas do bem.

A 16 quilômetros ao norte de Orkney, onde o Oceano Atlântico encontra o Mar do Norte, está o mais poderoso gerador de energia a partir da corrente de marés do mundo, o O2, da Orbital Marine Power. “Sua sombra rapidamente supera nosso pequeno barco”, relata uma reportagem feita pelo The Guardian.

A empresa escolheu esse ponto específico porque Orkney registra algumas das mais fortes correntes de maré do planeta —elas chegam a velocidades de mais de 3 metros por segundo. A plataforma flutuante captura essa energia que flui das águas e a transforma em eletricidade com a ajuda de turbinas submersas.

O Reino Unido é considerado líder mundial no desenvolvimento de tecnologia para gerar energia a partir das marés. Essa solução ainda não é amplamente explorada por outros países, mas é considerada a próxima fronteira quando se fala de energia renovável. E tem uma curiosidade: é a única fonte de energia renovável que vem da atração da Lua sobre a Terra. 

“Ao contrário de outras energias renováveis ​​que dependem, por exemplo, do sol ou do vento, os recursos das marés são previsíveis e contínuos”, diz ao The Guardian o professor AbuBakr Bahaj, chefe da divisão de energia e mudanças climáticas da Universidade de Southampton.

Sua vantagem sobre as barragens de maré que são usadas em alguns lugares é que esse tipo de plataforma custa menos para construir e tem menor impacto ambiental do que as barragens, que alteram o fluxo das marés e podem afetar a vida marinha e das aves.

Mais países adotam a solução

A plataforma foi implantada em Orkney em julho de 2021 e consiste em uma estrutura flutuante de 74 metros de comprimento, equipada com uma turbina submersa de duas pás em cada lado. Um cabo submarino a conecta à rede elétrica local em terra, fornecendo uma quantidade de energia capaz de abastecer 2.000 casas. 

Se for plenamente explorada, a geração de energia vinda das marés pode fornecer 11% das necessidades atuais de eletricidade do Reino Unido, segundo uma pesquisa da Universidade de Plymouth. 

Outros países estão de olho nessa nova fonte de energia renovável. Em 2020, o governo canadense anunciou um investimento de US$ 28,5 milhões em geração de energia a partir das marés com tecnologia desenvolvida pela empresa escocesa Sustainable Marine na Baía de Fundy, lar das marés mais poderosas do mundo. Em maio de 2022, o Canadá entregou a primeira plataforma de energia das marés para a rede de energia da Nova Escócia.

E, nas Ilhas Faroé, o desenvolvedor sueco Minesto instalará e operará duas plataformas de exploração de energia das marés, que serão conectadas à rede e à principal empresa de energia das ilhas, que se comprometeu a comprar a eletricidade gerada. 

“Existe um interesse global no fluxo das marés. Com o atual aumento nos preços do gás e da eletricidade, a energia das marés provavelmente competirá favoravelmente”, diz Bahaj. “De certa forma, o futuro parece mais brilhante do que há um ano.”

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