Como a volta aos estudos reprogramou a vida de Wagner Souto

Wagner Souto, engenheiro de software do iFood, conta como encontrou nos estudos uma oportunidade de mudar não só de carreira como de recomeçar na vida.

“Hoje eu me sinto num começo. Eu era um cara que não fazia planos porque não tinha nem grana nem cabeça para isso. Agora eu tenho, sabe?” É assim que o mais novo engenheiro de software do iFood, Wagner Souto, define o seu momento de vida. A volta aos estudos, a mudança de carreira e o fortalecimento dos relacionamentos familiares são os pilares dessa sensação.

Wagner tem 36 anos e é natural de Porto Alegre (RS). Entre 2014 e 2022, a bicicleta que o leva para todos os lugares da capital gaúcha foi seu principal meio de sustento. Isso porque antes de trabalhar na área de tecnologia do iFood, ele fazia entregas de bike. 

Para complementar a renda de professor de ioga, ele carregava em suas costas um pouco de tudo: documentos, materiais odontológicos, exames, café, alimentos orgânicos (incluindo melancias!) e os pratos veganos que ele mesmo fazia e vendia. 

A experiência com entregas começou em um coletivo de entregadores. Mas pouco tempo depois ele estava trabalhando sozinho com alguns clientes que herdou da sua primeira experiência. “Eu rodava em média 60 km por dia”, lembra Wagner.

Uma vida ativa, um trabalho que se encerrava no finzinho da tarde, um filho recém-nascido… Olhando assim, quem poderia imaginar que a vida de Wagner não era lá das mais tranquilas? Pois não era. Em 2019 veio a separação e o fim da carreira como professor de ioga. Nesse período, ele também se envolveu com drogas. “Eu me destruí muito”, reconhece.

Um salvou o outro

Nesse meio tempo, Wagner conheceu a atual companheira. Entre o namoro e o compromisso, houve uma separação, outro relacionamento e uma reconciliação. Wagner conta:

“Eu a conheci quando usava drogas. Moramos juntos, mas a dependência criou coisas horrorosas no nosso relacionamento. Aí eu me juntei a outra pessoa. Um dia, em outubro de 2020, quando eu estava havia dois meses sem usar, a gente se desentendeu e ela me expulsou de casa.

Estava arrumando a minha mochila para ir embora na sacada e fiquei a ponto de me jogar de lá. Nessa hora, a minha atual companheira me ligou dizendo que tinha sonhado comigo e que estava preocupada. Eu falei: ‘tá brincando, alguém te mandou ligar!’”.

Não foi um caso pensado. Wagner contou tudo o que estava passando e a atual companheira foi ao seu encontro. Ela já estava limpa havia dois meses também, mas naquele dia teve uma recaída e decidiu entrar em contato, um pedido de ajuda. Um salvou o outro naquela noite.

O início do (re)começo

“O que me fez parar foi a falta de perspectiva”, conta Wagner quando perguntado sobre o que o motivou a deixar as drogas.

E essa perspectiva foi encontrada quando Wagner começou a estudar programação. Ele sempre foi apaixonado pelo tema, só não se lembrava disso. Quando morava com a primeira esposa, chegou a comprar alguns cursos pela internet para estudar, mas o plano não seguiu adiante. 

Sabe o que mais o fez encontrar perspectiva? A família. “Eu queria dar um outro exemplo para o meu guri”, diz um dos futuros devs do iFood. “Eu sempre via meu pai estudando e queria que o meu guri também me visse assim. Não é demérito fazer entregas, mas queria que ele me visse fazendo outras coisas.”

Tanto não é demérito que foram as entregas de bike pelo iFood que de certa maneira abriram caminho para a transição de carreira, o terceiro pilar dessa história.

Com uma rotina mais organizada, havia tempo reservado para os estudos — geralmente bem cedinho, antes mesmo do nascer do sol — e outro para fazer suas entregas, ainda de bike.

Foi nessa época, ali em 2021, que ele se cadastrou no iFood para fazer delivery pelo app. No mesmo ano, Wagner se inscreveu em um curso da Alura, tomou coragem e mandou uma mensagem para Paulo Silveira, CEO da instituição de ensino, “prometendo” um dia encontrá-lo para falar como os estudos e a comunidade de desenvolvedores o ajudaram a voltar para a vida.

“A volta ao estudo foi uma tábua de salvação. Na época, tudo o que eu tinha era a minha vontade de aprender e um Raspberry Pi [mini-computador de placa única multiplataforma usado no ensino de ciência de computação básica]. Eu queria voltar a estudar e trabalhar com a minha cabeça”, diz. “E não posso deixar de reconhecer a comunidade de desenvolvedores, porque eu precisei de novos círculos sociais.”

A ousadia rendeu uma abertura de contato. Depois disso, mais um movimento arrojado: Wagner fez um post no LinkedIn com um vídeo com o código de um projeto que estava fazendo no curso e marcou o iFood: “alô, iFood. Tem ciclista querendo virar desenvolvedor”.

Não é que virou? Silveira pediu seu contato e tempos depois uma mensagem do iFood apareceu na sua caixa de e-mail para participar de um processo seletivo. E no iFood ele está desde abril de 2022 para um novo começo, aquele que agora o permite fazer planos.

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