Como (e por quê) o iFood pratica a inovação aberta

O que é inovação aberta e como o iFood a coloca em prática? Marcos Gurgel, diretor de Corporate Venture, Open Innovation e Jet Skis do iFood, explica aqui.

Por Marcos Gurgel, diretor de Corporate Venture, Open Innovation e Jet Skis do iFood


Ainda hoje, inovação, para muitas empresas, é sinônimo de segredo. É o que acontece em um laboratório de P&D (pesquisa e desenvolvimento), a portas fechadas, com poucas pessoas envolvidas em projetos que levam anos para serem desenvolvidos.

Mas ninguém consegue ser melhor em tudo o tempo todo. Se no mercado existem pessoas e empresas que já resolveram o mesmo problema, não seria melhor poupar tempo e investimento trabalhando em parceria com elas?

Esse é o princípio da inovação aberta, que abre o laboratório para mais gente entrar. As três grandes características da inovação aberta são: realizar projetos de forma colaborativa, com mais rapidez e com uma criação de conhecimento mais ampla, pois as informações são compartilhadas também com gente de fora da organização.

O resultado é que, ao compartilhar sua visão do problema com mais pessoas, a empresa encontra uma resposta melhor e mais rápida. Há um ganho tremendo em dinamismo nos projetos de inovação, porque a organização deixa de percorrer sozinha a trilha inteira de P&D.

Em vez disso, passa a atuar mais como uma gestora de projetos, enquanto sua parceira traz a tecnologia pronta e a adapta para sua realidade. Na inovação aberta, o perfeito (que pode levar anos para ser atingido) dá lugar ao feito, ou seja, a uma primeira versão pronta para ser testada, pivotada e aprimorada para chegar mais rapidamente à solução.

Entregas por drone

Um exemplo: quando o iFood pensou em fazer entregas por drone, imaginem quantos esforços seriam necessários para desenvolver uma tecnologia própria. Teríamos que aprender a construir os robôs, capacitar operadores de drone, criar uma área de manutenção e reparo das máquinas e outra focada em relacionamento com o governo para ter aprovação para operar, só para começar a brincadeira. Não valeria a pena.

Olhando para esse desafio com as lentes da inovação aberta, achamos melhor buscar no mercado empresas especializadas em drones e fazer uma parceria para encontrar a melhor solução para a nossa necessidade.

E deu certo: em 2021 fizemos os primeiros testes de entrega com drones, com sucesso, em Campinas (SP) e Aracaju (SE). Tudo isso muito mais rapidamente do que se estivéssemos isolados nos nossos laboratórios criando a solução do zero.

Nas nossas parcerias de inovação aberta acontece uma troca valiosa. De um lado, o iFood traz uma empresa mais ágil em termos de construção para ter uma solução mais rapidamente.

De outro, as startups, entram em um ambiente onde podem crescer com uma velocidade muito maior e com apoio da nossa estrutura em tecnologia, produto, design e marketing digital, por exemplo. E contando com a base de clientes e com o ecossistema que já desenvolvemos para ganhar escala em sua fase de hyper growth.

Navegando sozinhos, os empreendedores podem chegar nesse mesmo lugar, claro. Mas, quando se unem ao nosso ecossistema, eles alcançam esse patamar em uma velocidade que chega a ser de 18 a 20 vezes maior.

Live commerce

Outro exemplo de inovação aberta que eu gosto muito de citar é o das live commerce. Nosso time de tecnologia e inovação olha muito para a China, a Europa e os Estados Unidos para entender como estão criando novos negócios. Nessa prospecção, eles notaram um boom de live commerce no exterior.

Ao saber disso, perguntei ao time de tecnologia do iFood quanto tempo levaríamos para fazer live commerce. Eles me deram uma estimativa de 6 a 12 meses para concluir um projeto desses. Agora, imaginem se eu pedisse para essa equipe se dedicar por meses a um teste de algo que ainda não sabemos se vai vingar no Brasil? Faz sentido investir tanto esforço em um produto apenas para testá-lo?

A minha resposta é: “não”. Voltando a olhar o mercado, encontramos várias startups no Brasil que já tinham soluções prontas de live commerce —e no modelo white label, que poderia ser adaptado como uma funcionalidade do iFood.

O desenvolvimento de live commerce no iFood, portanto, é um modelo de inovação aberta no qual selecionamos um pool de startups, escolhemos uma “vencedora” e rodamos a PoC (prova de conceito) com ela.

Em relação à trilha tradicional de desenvolvimento de um novo produto, ganhamos tempo. Não passamos pela fase de descoberta, pesquisa e desenvolvimento e de chegar ao MVP (produto mínimo viável), pois a empresa já tinha o produto white label para testarmos.

Fomos direto para a fase da PoC e testamos se a solução se encaixa no nosso mercado para ver se realmente vale a pena gastar um ano investindo para ter a nossa própria ferramenta. Ou se é melhor virar sócio da startup ou comprar essa solução no mercado. A diferença é que com a inovação aberta podemos chegar a essa decisão com uma velocidade infinitamente superior do que se fizéssemos tudo isso por conta própria.

Farm to table

Outra parceria de inovação aberta começou quando percebemos que a tese de farm to table estava super adiantada na Ásia. Isso significa a desintermediação da cadeia para pegar o alimento direto do produtor rural e vender para o consumidor a um preço menor.

Novamente pesquisamos o mercado brasileiro, entendemos quem eram os players e fizemos parceria com uma startup, que acabou sendo adquirida ao final do processo de inovação aberta.

Ao longo do processo, essa empresa, que tinha três pessoas na área de tecnologia e uma na área de produto (e zero orçamento de marketing digital), passou a ter apoio das áreas de tecnologia, produto e marketing do iFood.

Em todas as nossas parcerias de inovação aberta, colocamos nossos ativos internos à disposição das startups, caso elas precisem. Nosso intuito é sempre o de deixar a startup caminhar com suas próprias pernas, mas contando com a nossa estrutura.

Chegamos a 2022 vendo um mercado ainda incipiente quando se fala em inovação aberta no Brasil. As empresas estão aprendendo a lidar com as startups com menos burocracia e dando condições para que os empreendedores se desenvolvam, e não sejam esquecidos dentro de uma grande corporação, pois isso prejudica o ecossistema de inovação aberta.

Também é preciso resistir à tentação de comprar startups pelo hype ou por outros motivos que não sejam o de colocar a inovação aberta em prática (e sim fazer marketing ou comprar antes da concorrência).

Hoje, ainda são as grandes empresas que prospectam empreendedores. No futuro, o ideal é que as startups também comecem a bater na nossa porta para fazer essas parcerias. Quando esse relacionamento acontecer de forma fluida, como uma via de mão dupla, sem barreiras, será um sinal de que, enfim, o ecossistema de inovação aberta estará maduro no Brasil.

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