Da 1ª muda ao escudo da CBF: como o café conquistou o Brasil

Em 24 de maio, o Brasil celebra o Dia do Café. Mas você sabe como esse fruto saiu da África e foi parar no Brasão Nacional? Descubra essa história aqui.

Descubra como o café chegou ao país, caiu no gosto dos brasileiros e foi parar na camisa da seleção de futebol

O café é uma bebida muito amada pelos brasileiros —tanto que alguns consideram o cafezinho um patrimônio nacional. Mas você sabia que esse fruto tão saboroso e aromático não é nativo das nossas terras? Sim, o Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, respondendo por cerca de um terço da produção global, mas esse frutinho, na verdade, veio da África.

Em 24 de maio, comemora-se o Dia Nacional do Café porque é nesse dia que começa a colheita nas principais regiões cafeeiras do Brasil. Do campo até a bebida quentinha que chega na nossa xícara, percorre-se um longo caminho. Tão longo quanto aquele que o café trilhou até chegar ao Brasil para marcar presença nos costumes, na política e até na camiseta da seleção de futebol.

Quer saber como foi que tudo isso aconteceu? Confira a seguir 4 curiosidades sobre a história do café.

A mudinha contrabandeada 

O café não é nativo do Brasil, muito menos das Américas. O frutinho surgiu na Etiópia (África) e ganhou projeção na Arábia Saudita. É de lá, aliás,  que vem o nome arábica, a espécie mais consumida. 

Para chegar até aqui, o café pegou muitas escalas —e alguns contrabandos. Nosso imaginário relaciona o café aos italianos, mas ele só passou a ser cultivado em terras brasileiras graças aos holandeses e franceses. Coube aos holandeses o primeiro contrabando do fruto, levado direto para algumas de suas colônias, como o Suriname. Já a França mandou mudas para a Guiana Francesa (os dois países são nossos vizinhos do norte).

Uma delas acabou vindo parar no Brasil. Em 1727, o Sargento-Mor Francisco de Mello Palheta foi enviado à Guiana Francesa com a missão de restabelecer a fronteira com os vizinhos e, já que estava por lá, por que não trazer uma muda e algumas sementes de café, não é mesmo? 

A missão deu certo. Ele conquistou a confiança da esposa do governador da capital do país e trouxe uma mudinha clandestinamente, escondida na bagagem. E assim começou o cultivo do café no Brasil.

A força econômica e política do café

A porta de entrada do café no Brasil foram dois estados do Nordeste: Maranhão e Bahia. Depois ele ainda passou por Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Hoje, segundo a Embrapa, temos produtores de café em 1.448 municípios, distribuídos por 16 estados das cinco regiões do país. Ou seja, um pouco mais de um quarto das nossas cidades tem sua economia de certa maneira atrelada ao café.

Em 1825, quase 100 anos depois de sua chegada, o café deu início a um novo ciclo econômico a partir do Vale do Paraíba, região dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Depois se expandiu (forçado pelo esgotamento das terras da região) para o oeste de São Paulo e o norte do Paraná.

O café foi por muito tempo a principal atividade econômica do Brasil e o produto mais importante para exportação. A riqueza gerada pela atividade (obtida pela utilização de mão de obra escravizada e depois pelo trabalho de imigrantes europeus assalariados) promoveu o desenvolvimento de cidades, como São Paulo, a substituição do transporte animal pelas ferrovias e até intensificou movimentos culturais.

Essa grande importância do café para a economia teve reflexos, é claro, na política. O mais conhecido é a política do café com leite. Na recém-criada República, a presidência do país era ocupada alternadamente por representantes de duas oligarquias das potências econômicas da época: São Paulo (o café) e Minas Gerais (o leite). A República Oligárquica (1898-1930) viu 11 presidentes, 6 paulistas e 3 mineiros. Quando não elegiam um dos seus, os dois estados participavam da escolha do novo presidente.

Café no Brasão da República

O café foi se tornando tão importante para o Brasil que, afinal, tornou-se oficialmente um dos quatro símbolos nacionais. Ele é representado no desenho das Armas Nacionais (Brasão da República), símbolo presente nos edifícios dos poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, nos quartéis das Forças Armadas e em todos os prédios públicos. A coroa sobre a qual repousam a espada, a estrela e o escudo é formada por um ramo de café frutificado e outro de fumo florido.

Por fim, estampado no escudo da Seleção

Foi por pouco tempo, mas o café também já esteve presente no escudo da Confederação Brasileira de Futebol. Depois de se desmembrar da Confederação Brasileira de Desporto, a CBF realizou duas alterações no distintivo. A primeira, em 1979, apenas substituiu a letra “D” pela “F”, mantendo o design original. A segunda, em 1982, modificou completamente o distintivo, que passou a ter a taça Jules Rimet (que o Brasil havia conquistado em definitivo em 1970), a sigla CBF bem no alto e um raminho de café.

Esse raminho, que Zico, Sócrates e companhia estamparam na Copa da Espanha (1982), era o logotipo do Instituto Brasileiro de Café (IBC), então patrocinador da Seleção. Colocar a identidade da estatal brasileira no distintivo foi a maneira que a CBF arranjou para driblar o veto da Fifa a patrocínios na camisa. 

O jeitinho durou pouco: nas duas Copas seguintes (1986 e 1990), a CBF levou no seu uniforme o distintivo limpo, apenas com a taça Jules Rimet e a sigla da instituição. 

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