Investimento social privado ganha mais relevância na pandemia

O investimento social privado tem sido essencial para combater problemas sociais no Brasil, especialmente depois da pandemia de Covid-19 --descubra por quê.

Combate à fome e a outros efeitos socioeconômicos da Covid-19 mobiliza empresas e pessoas físicas

Em 2020, muitos brasileiros se mobilizaram para fazer frente à emergência social e sanitária desencadeada pela Covid-19. E uma das formas de amenizar os impactos que a doença teve na saúde e na renda das pessoas mais vulneráveis foi o investimento social privado, que é o repasse voluntário de recursos privados para projetos sociais, ambientais, culturais e científicos que são de interesse público.

Desde o início da pandemia, R$ 7,16 bilhões foram doados para ações relacionadas aos efeitos da Covid-19 em áreas como saúde, assistência social, educação e geração de renda, aponta o Monitor das Doações da ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos). E a maior parte (85%) desses recursos veio de empresas –entre elas, o iFood.

“Esse dado é interessante porque a doação feita por pessoas físicas de baixa renda vem caindo no Brasil desde 2015, mas a de pessoas mais ricas e empresas aumentou, o que tem amenizado a queda do investimento social”, comenta Cássio Aoqui, diretor-executivo da ponteAponte, consultoria especializada no tema.

Segundo a Pesquisa Doação Brasil 2020, o percentual de pessoas que fazem doações para organizações encolheu de 46% da população em 2015 para 37% em 2020, com queda acentuada entre os brasileiros de baixa renda. Por outro lado, entre quem tinha renda familiar acima de 6 salários mínimos (R$ 6.270), o percentual de doadores para organizações e iniciativas socioambientais cresceu e chegou a quase 60%.

No quadro geral, o último relatório bianual divulgado pelo Gife (associação dos investidores sociais do Brasil), em 2018, mostra que o volume do investimento social privado oscilou para baixo na última década, especialmente por causa da crise financeira internacional de 2008 e da instabilidade política e econômica no Brasil nos anos 2010. O valor médio do investimento social privado, que era de R$ 44 milhões em 2008, chegou a R$ 25 milhões em 2018. No mesmo período, o total investido diminuiu de R$ 3,54 bilhões para R$ 3,25 bilhões.

Mix de estratégias

As empresas são as fontes de recursos mais acessadas pelos investidores sociais –seja para serem mantenedoras de fundações e institutos ou para atuarem como investidoras, de acordo com o Gife. “No Brasil, historicamente, os recursos vindos das empresas são de grande importância”, afirma Cássio.

“Quando vemos um quadro tão alarmante em termos de insegurança alimentar e desperdício de alimentos, isso nos incomoda, mas também mostra uma oportunidade de ajudar a combater o problema”, diz André Borges, head de sustentabilidade do iFood.

Como ele, os brasileiros veem a segurança alimentar como uma prioridade. Em 2020, o combate à fome e à pobreza assumiu o topo do ranking das causas que mais sensibilizam a população, passando à frente de saúde e dos projetos focados em crianças, segundo a Pesquisa Doação Brasil 2020.

Para André, a gravidade da questão da fome no Brasil pede uma resposta estruturada e colaborativa, como no projeto Todos à Mesa, lançado em outubro de 2021. A iniciativa reúne parceiros como o iFood, a ONG Ação da Cidadania, a Nestlé, o Carrefour, a M. Dias Branco e conta com a inteligência de redistribuição de alimentos da startup de impacto social Connecting Food para redistribuir alimentos excedentes a quem precisa em vez de desperdiçá-los.

“Nossa expectativa é redistribuir 1.500 toneladas de alimentos até março de 2022”, acrescenta André. “O poder público, sozinho, não consegue mudar o cenário, e as empresas podem ajudar. No iFood, queremos conectar quem pode doar a quem precisa de alimentos.”

O enfrentamento do problema da insegurança alimentar pede um mix de estratégias, pondera Cássio. “Tem que haver espaço para o assistencialismo, que age em curto prazo, porque as pessoas estão passando fome hoje, mas também é preciso pensar em soluções e investimentos em longo prazo.”

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