Os 3 desafios da transição para veículos elétricos no Brasil

Carros, motos e caminhões elétricos são o futuro dos transportes no país —mas quais obstáculos devem ser superados para isso se tornar realidade?

É certo que o futuro da indústria automobilística brasileira será movido pela energia elétrica. O que não é certo ainda é quando esse futuro vai virar presente, uma vez que não são poucos os desafios a serem superados para vermos mais carros, motos, ônibus e caminhões elétricos transitando pelas ruas e estradas do país.

Em 2018, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), organização pública ligada ao Ministério de Minas e Energia, publicou um estudo sobre eletromobilidade e bicombustíveis para servir de apoio ao Plano Nacional de Energia 2050, documento que visa modelar os cenários de crescimento da oferta e da demanda de energia no Brasil nos próximos 30 anos.

Nele, foram listados desafios para fazer a transição energética do uso de combustíveis fósseis para a energia elétrica em veículos leves e pesados. Eles foram complementados pela Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) para indicar quais pontos são essenciais para a adoção em massa dos veículos elétricos no país e avaliar como cada um deles vem (ou não) avançando.

Baixar o preço dos veículos: virada em 2025?

Um veículo elétrico ou um híbrido (com motor a combustão e elétrico) é bem mais caro do que os correspondentes à queima de combustível fóssil. O carro elétrico mais barato lançado no Brasil até abril de 2022 é o Renault Kwid, que custa R$ 143 mil. Nessa faixa de preço, a concorrência com veículos de luxo é grande.  

Existe uma expectativa de que esse preço caia, segundo Eduardo de Sousa, diretor de infraestrutura da ABVE. Ele explica que 40% do preço final do elétrico corresponde ao custo das baterias.

Um estudo realizado pela Bloomberg New Energy Finance aponta que em 2021 o custo médio das baterias de lítio foi de US$ 132 por kWh de energia gerado —uma redução de 89% em relação a 2010. “Quando o custo médio das baterias ficar abaixo de US$ 100 por kWh, o preço final do veículo elétrico já será equivalente ao do similar a combustível fóssil. O ponto de virada deve acontecer entre 2025 ou 2026”, diz.

Além disso, ele destaca que esse investimento inicial na compra do veículo poderá ser diluído no custo de manutenção. “O investimento pode ser abatido a partir do quarto ou quinto ano de uso, porque o custo por quilômetro rodado é cinco ou seis vezes inferior ao de um veículo a gasolina, e o custo de manutenção é de 60% a 70% menor, por existirem menos peças”, explica.

Mais pontos de recarga: em construção

Para que mais veículos elétricos rodem por aí, o Brasil precisa ter uma infraestrutura de recarga elétrica adequada, aponta o documento da EPE —que não chega a fazer uma avaliação do atual momento da infraestrutura nacional. 

Construir uma rede de recarga exigiria um investimento entre US$ 1.000 e US$ 2.000 para cada veículo em circulação, segundo esse texto, que cita números do relatório da Agência Internacional de Energia (AIE, 2010).

A ABVE acredita que o mercado de infraestrutura de recarga elétrica tem “avançado em ritmo razoável”. Pelo levantamento da entidade, existem 1.250 eletropostos públicos e semipúblicos no Brasil, isso sem contar com os pontos instalados em concessionárias e alguns condomínios residenciais e comerciais. “É um número compatível com a evolução do estoque de carros elétricos”, avalia Eduardo, que também é CEO da Electric Mobility Brasil, empresa de soluções de recarga elétrica. 

A previsão é que até o fim de 2022 esse número suba para 3 mil, e que até o meio da década alcance 10 mil eletropostos.

Segundo o executivo, além da ampliação da rede é preciso investir em eletropostos que ofereçam carga rápida ou ultrarrápida “para que as viagens sejam mais seguras e práticas para o motorista de carro elétrico”.

O diagnóstico feito pela EPE ainda afirma que a rede de distribuição precisa ser levada a um próximo nível para adequar a oferta à demanda de energia elétrica. A empresa sugere, por exemplo, a criação de estímulos para que o consumidor recarregue o veículo sem sobrecarregar o sistema elétrico.

Criação de uma política de eletromobilidade: uma incógnita

Outro importante desafio ressaltado pela ABVE é a criação de uma política nacional de eletromobilidade, o “ecossistema” da eletrificação da frota de veículos (leves e pesados), que compreende a fabricação e a infraestrutura existente para que o modal funcione sem que ninguém pare no meio da rua ou da estrada por “falta de combustível”.

Um primeiro passo foi a criação do programa federal Rota 2030 (sucessor do Inovar-Auto). Eduardo reconhece a importância da iniciativa — em especial da redução de alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos elétricos e a adoção do conceito de eficiência energética para os veículos—, mas em sua opinião ainda é preciso fazer mais.

Segundo ele, só uma estratégia nacional que integre incentivos dispersos por cidades e estados em um programa de longo prazo dará “horizonte” às empresas e investidores e transmitirá confiança aos compradores de veículos elétricos. “Hoje, ainda não sabemos onde o Brasil quer chegar com a eletromobilidade”, afirma.

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