Tech: uma segunda carreira possível depois dos 40?

Será que os mais velhos podem trabalhar na área de tecnologia? Morris Litvak, CEO da Maturi, especializado em empregabilidade dos 50+ responde a essa questão.

Morris Litvak, CEO da Maturi, fala sobre o potencial da área de tecnologia para receber profissionais que queiram mudar de carreira

Hoje, Morris Litvak, CEO da Maturiplataforma digital que traz oportunidades de trabalho e capacitação para quem tem mais de 50 anos—, é um empreendedor social. Mas essa é a sua segunda carreira. 

A primeira foi como engenheiro de software: com o pai, ele criou na década de 1990 um sistema de reserva online de hotéis que mais tarde foi vendido a uma empresa de Portugal. A partir daí, ele começou a repensar sua trajetória e percebeu que precisava buscar algo além do dinheiro. 

“Realmente fui me abrindo e participando de muita coisa, conversando com muita gente”, relembra. Morris fez trabalho voluntário em casa de repouso e participou de eventos de startups e empreendedorismo até descobrir que era possível ganhar dinheiro e resolver um problema da sociedade: a empregabilidade dos mais velhos.

A história dele mostra que se antes o padrão era começar e terminar a trajetória profissional na mesma área de atuação, agora é possível escolher fazer algo bem diferente no meio do caminho. “Estamos vivendo mais, então vai ser cada vez mais comum repensar a carreira, a vida, buscar o que faz mais sentido e aí mudar de área”, diz. 

Será que a tecnologia pode ser um novo caminho para essa segunda carreira? Ele acredita que sim —e que há potencial para que o empreendedorismo e o setor de tecnologia (duas áreas que Morris conhece muito bem) sejam opções viáveis para quem deseja fazer esse movimento.

Na conversa com o iFood News, o fundador da Maturi conta como foi a sua mudança de área e mostra como a tecnologia pode abrir caminhos para quem, como ele, está em busca de novos ares profissionais.

A avó que inspirou a Maturi

Morris teve duas inspirações para sua segunda carreira: o trabalho voluntário e a sua avó. “Quando minha avó parou de trabalhar, aos 82 anos, a saúde dela decaiu e ela passou a desenvolver algumas doenças. Eu conectei isso com as histórias que ouvia das pessoas que viviam na casa de repouso em que fui voluntário”, explica.

Foi assim que ele se interessou pelo assunto e percebeu que a crescente população mais velha tinha muita dificuldade de se manter no mercado. “Pessoas muito mais jovens que a minha avó, de 50 a 60 anos, sofriam do que ela sofreu, não por escolha, mas porque não conseguiam emprego por causa da idade”, diz. Encontrar uma vaga para esses brasileiros foi o propósito que ele abraçou. “Pensei: ‘aqui tem uma oportunidade.”

Vamos normalizar a segunda carreira?

Se no passado não era comum ver pessoas mudando de carreira ao longo do curso de vida, hoje esse movimento já não é tão raro. “As pessoas se abrem para isso pois percebem que é possível. Você pode aprender uma nova profissão sem necessariamente fazer uma faculdade”, comenta. 

Morris aponta outro fator que tem acelerado esse movimento: a dificuldade de encontrar emprego na carreira de origem. “Aí a pessoa tenta fazer outra coisa e começa a perceber que é possível”, completa o empreendedor.

Ele mesmo começou a Maturi com investimento quase zero. “Criei uma landing page em um serviço gratuito, coloquei no ar e usei muito as redes sociais”, revela. “As pessoas têm uma ideia de que empreender é abrir um negócio que precisa de muito investimento. Até pode ser, mas não precisa ser assim.”

Abrindo a cabeça para a tecnologia

Outro segredo, conta Morris, é abrir a cabeça para a tecnologia. “Ela é fundamental para que você consiga testar, validar, divulgar e tudo mais. Não tem como você fazer qualquer tipo de trabalho hoje — principalmente empreender — sem usar a tecnologia”.

Para ele, o mercado de tecnologia tem um potencial real de absorver pessoas que desejam mudar de área. Afinal, há muitas oportunidades de emprego, especialmente em tempos de ameaça de um apagão tecnológico. Mas ele pondera: é preciso realmente gostar do assunto. “A maioria das vagas são para desenvolvedores e programadores, e isso não é para qualquer um, nem todo mundo se identifica.”

Além de querer trabalhar na área e se interessar pelo assunto, também é preciso se capacitar para que a área de tecnologia seja uma chance real de segunda carreira. Por isso, Morris reforça a necessidade de os cursos de capacitação abraçarem também a diversidade etária, para que mais perfis entrem nesse mercado e ajudem a reduzir o déficit profissional do setor. “Os programas de capacitação precisam ser mais inclusivos para os mais velhos também entenderem que aquilo é para eles.”

O que o CEO da Maturi diria para quem está pensando em mudar de carreira, especialmente para quem quer entrar na área de TI? “Tenha curiosidade para aprender e humildade para saber que, apesar da sua experiência, sempre haverá coisas novas e será preciso pedir ajuda.”

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