“Construir um ambiente diverso é responsabilidade de todos”

Alexandre Oliveira, líder do comitê LGBTI+ Amor no iFood, fala sobre as ações de diversidade e inclusão do Pólen

O respeito à diversidade e as ações de inclusão da comunidade LGBTQIAP+ são as bandeiras do LGBTI+Amor, um dos cinco comitês que compõem o Pólen, um conjunto de grupos de discussão formados por colaboradores do iFood (ou FoodLovers) —os outros são voltados para mulheres, pessoas negras, pessoas com deficiência e para o corpo livre. 

Criado em 2018, o LGBTI+Amor já reúne mais de 400 FoodLovers no grupo de discussão —e faz suas ideias chegarem também às lideranças e aos colaboradores heterossexuais. “É importante que as pessoas aliadas compreendam que a responsabilidade pela mudança está também na mão delas”, afirma Alexandre Oliveira, 25 anos, coordenador de eficiência comercial do iFood e líder do LGBTI+Amor. 

Em entrevista ao iFood News, ele explica como o comitê trabalha para abrir o diálogo sobre temas LGBTQIAP+, dar mais apoio a essa comunidade na empresa e envolver os FoodLovers na criação de um ambiente melhor para todos.

iFN – Como surgiu o Pólen?

Alexandre – O Pólen nasceu em 2018 como uma iniciativa dos FoodLovers e com o propósito de ser um ponto de encontro para falar de temas como a presença de mulheres na liderança, a causa LGBTI+, o racismo e outros assuntos que permeiam a nossa vivência. A seguir, vieram os grupos de discussão sobre pessoas com deficiência e sobre o corpo livre.

Nossa primeira reunião foi na época da mudança do escritório, quando o iFood foi para Osasco. O primeiro passo do comitê LGBTI+ Amor foi falar sobre as nossas vivências e o que faria sentido ter em uma agenda de diversidade e inclusão.

Ao longo dos anos, o Pólen foi evoluindo para ter um papel mais estratégico na tomada de decisão da empresa ao coletar as dores das pessoas e levar isso de forma organizada para os líderes, para traçar planos de ação.

iFN – Como funciona o comitê LGBTI+Amor?

Alexandre – O objetivo do comitê é fortalecer uma rede na comunidade LGBTI+ dentro do iFood e levar os nossos insights para que o time de diversidade e inclusão crie planos de ação. Queremos que a voz das pessoas seja levada para a liderança de uma forma organizada e estruturada.

Para isso, fazemos encontros quinzenais com muita escuta ativa para ter uma leitura mais clara de quais são as dores dos FoodLovers LGBTI+, como é a sua experiência na empresa, quais são as necessidades. E também para compartilhar as nossas vivências, contar as nossas histórias e, assim, solidificar a nossa rede como um espaço seguro para que as pessoas se sintam cada vez mais abertas para falar.

Em 2020, a agenda de diversidade e inclusão do iFood ficou mais forte, com mais discussões sobre mudanças estruturais e uma preocupação de trazer diversidade em todos os pontos da jornada dos FoodLovers, como na contratação e na retenção.

iFN – Hoje, quais são os temas mais importantes para o comitê?

Alexandre – Desde 2020, o iFood teve um grande volume de contratação de pessoas trans, e vimos também muita gente fazendo a transição. Então a experiência de pessoas trans é um ponto chave para nós. 

Por isso, o comitê mapeou os principais pontos de dor na jornada de uma pessoa trans e onde podemos melhorar em parceria com o time de diversidade e inclusão. Hoje, temos um plano em três frentes, envolvendo a experiência no trabalho, o desenvolvimento de carreira e benefícios na área de saúde. 

Algumas das iniciativas nesse sentido foram promover um diálogo entre as pessoas que vão fazer a transição e seus times, oferecer mentoria específica, entender como apoiar na busca por procedimentos cirúrgicos ou não e preparar nossa equipe de psicólogos para atender esses FoodLovers. Hoje, o iFood oferece auxílio de R$ 3.000 por ano para ajudar com documentação, medicação, apoio jurídico e psicológico para quem faz transição de gênero. 

Outra questão importante para o comitê, hoje, é a de formar embaixadores em cada time, para que as pessoas possam tocar iniciativas de forma autônoma, dentro de um direcional estratégico, para termos mais iniciativas e projetos.

Existe também uma agenda de ações com as pessoas que não fazem parte da comunidade LGBTI+, que a gente chama de aliadas, para que elas entendam os conceitos básicos, como o que é identidade de gênero e orientação sexual, e como podem criar um ambiente mais seguro para essa comunidade. 

iFN – Por que é importante levar os temas da comunidade LGBTI+ para pessoas heterossexuais?

Alexandre – É importante que as pessoas aliadas compreendam que a responsabilidade pela mudança está também na mão delas. Construir um ambiente diverso é uma responsabilidade de todos.

Frente a uma situação de discriminação, se você não se posiciona, você está do lado de quem está agredindo. Falamos bastante sobre o papel das pessoas heterossexuais como aliadas e sobre como é importante que elas não pensem que não precisam se posicionar em uma situação de violência contra a comunidade LGBTI+ porque não fazem parte dela. 

Se essa pessoa está em cargo de liderança ou em posição de destaque, ela tem voz e pode falar em defesa de quem não tem. Não teremos mudanças significativas se as pessoas em posição de privilégio não agirem a favor das pessoas desprivilegiadas. Não fazer nada é fazer com que a roda gire como sempre girou.

Mas, como as pessoas heterossexuais não têm uma identificação natural com o assunto, precisam ser estimuladas a refletir sobre isto: se o ambiente já é seguro para mim, por que não torná-lo seguro para outras pessoas também, para que todos cresçam na mesma proporção?

Não basta achar que você não é uma pessoa homofóbica, transfóbica. É preciso ser uma pessoa que combata ativamente essas discriminações. Com um ambiente mais seguro e mais propício para o desenvolvimento dessas potências, a gente consegue incrementar as metas do iFood de ter mais pessoas negras e mulheres em cargos de liderança e quem sabe, no futuro, ter uma meta de pessoas trans nesses espaços.

iFN – Qual é o sonho grande do LGBTI+Amor para o futuro?

Alexandre – Para mim, é em algum momento olhar para o quadro de lideranças e ver uma mulher trans preta liderando uma frente de tecnologia, sabe? Seria a materialização de um trabalho de anos, que concretizaria o discurso na prática. 

Acho que nós evoluímos bastante, mas me empolga ainda mais o que a gente pode fazer. Existe um longo caminho pela frente, e o ponto de partida sempre vai mudando, está sempre um patamar acima do objetivo anterior. 

Diversidade e inclusão são temas que precisam estar sempre em movimento. Não dá para a gente parar e achar que o que conquistamos vai durar para sempre. A sociedade muda rapidamente, então precisamos ter agilidade e persistência e constantemente buscar onde podemos evoluir e melhorar. É importante a gente se sentir bem, mas com um pouco de uma insatisfação positiva, que sinaliza potência e mudanças estruturantes para o futuro.

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