Insegurança alimentar: o que é e como combatê-la?

Para a melhor compreensão do que significa insegurança alimentar, é preciso antes entender a definição de segurança alimentar. Confira.

Ao final de 2020, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) realizou uma pesquisa que mostrava números alarmantes sobre a insegurança alimentar.

Mais de 116 milhões de pessoas no Brasil estão em algum grau na tabela de insegurança alimentar e 19 milhões passam fome. Isso representa que mais da metade da população – dos 211, 7 milhões de brasileiros – não possui segurança alimentar, uma definição prevista na lei de número 11.346 de 2006.

Fome e insegurança alimentar são temas correlacionados, no entanto, o segundo é mais abrangente, e traz à tona debates urgentes e atuais a respeito do enfrentamento do desperdício de alimentos, das desigualdades sociais e do acesso à alimentação saudável e completa em todos os sentidos.

O que é insegurança alimentar?

Para a melhor compreensão do que significa insegurança alimentar, é preciso antes entender a definição de segurança alimentar:

A Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Losan), de 15 de julho de 2006, define segurança alimentar como:

“Realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente. Mas sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde. Elas respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis”.

Já o IBGE utiliza desde 2003 a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) para traçar diagnósticos da segurança alimentar nacional. Assim como auxiliar no entendimento do conceito com estudos e novas classificações.

  • Leve, moderada e grave

Em uma das classificações feitas pelo IBGE, ela é dividida em três graus, e assim utilizada para fornecer informações estratégicas na gestão de políticas públicas que identifiquem e quantifiquem os grupos pertencentes a estes quadros.

  • Leve: preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos no futuro; qualidade inadequada dos alimentos resultante de estratégias que visem não comprometer a quantidade de alimentos.
  • Moderada: redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre os adultos.
  • Grave: redução quantitativa de alimentos entre as crianças e/ou ruptura nos padrões de alimentação. Assim, resultante de falta de alimentos entre as crianças; fome (quando alguém fica o dia inteiro sem comer por falta de dinheiro para compra de alimentos).

É na terceira e última classificação, o grau grave, que se encontra o estágio de fome, e onde os dois conceitos se entrelaçam.

Qual a diferença entre insegurança alimentar e fome? 

São dois conceitos diferentes. A fome é uma sensação física causada por um extremo desconforto por falta de alimento. 

Enquanto isso, a insegurança alimentar é um conceito que se refere à falta de acesso a uma alimentação de qualidade, seja por aspectos físicos, econômicos, políticos ou sociais. Por conta disso, pode acontecer inclusive com pessoas que têm acesso a alimentos todos os dias.

Portanto, a fome seria um dos sintomas da insegurança alimentar, assim como falta de acesso a alimentos saudáveis, incapacidade para comprar alimentos e a incerteza se terá uma próxima refeição.

Quais as causas da insegurança alimentar?

É um fenômeno decorrente de ordem socioeconômica, questões históricas e estruturais.

Para cada país, uma realidade diferente. O motivo pode variar entre muitas dimensões. No entanto, podemos citar entre as principais causas da insegurança alimentar estão:

  1. Escassez de recursos;
  2. Problemas de abastecimento;
  3. Crise econômica;
  4. Desemprego;
  5. Mudanças climáticas;
  6. Distribuição desigual de renda.

Quanto mais fatores-causa um país possui, maiores os índices de subalimentação e má nutrição e, consequentemente, a insegurança alimentar.

Segundo relatório da ONU, as causas mais impactantes para as nações são os conflitos, crises econômicas, e a alta desigualdade.

O Brasil é um dos principais produtores de alimento do mundo e o quarto maior produtor de grãos, segundo a Embrapa. E no país vem crescendo, principalmente, pela falta de acesso à comida (um sintoma da pobreza da população). Além disso, pelo desperdício de alimentos, (o Brasil é um dos países que mais desaproveita a sua produção, de acordo com o comitê de Oxford para alívio da fome).

Consequências da insegurança alimentar 

As principais consequências da insegurança alimentar são para a saúde e o bem-estar do indivíduo. Isso porque, quando não temos acesso a alimentos nutritivos, corremos o risco de desenvolver alguns problemas, como a desnutrição e outras doenças. 

Além disso, no caso das crianças, a insegurança alimentar pode afetar o desenvolvimento físico e cognitivo, prejudicando, inclusive, o desenvolvimento nos estudos e o seu futuro.

A falta de acesso a alimentos frescos e saudáveis também pode contribuir para problemas de saúde crônicos, como obesidade, diabetes e doenças cardíacas. 

A insegurança alimentar também pode ter impactos sociais e econômicos negativos, aumentando a vulnerabilidade das comunidades e afetando a produtividade e a estabilidade econômica de regiões inteiras.

Insegurança alimentar no Brasil

A insegurança alimentar no Brasil chegou a 59,4% dos lares do país, de acordo com levantamento feito por pesquisadores da Universidade Livre de Berlim, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de Brasília (UnB) em novembro e dezembro de 2020.

Quando observados dentro das classificações de insegurança alimentar, os dados da pesquisa apontam que 31,7% dos entrevistados estão em estado leve; 12,7% moderada e 15% grave.

Ao se fazer um recorte por regiões do país, o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani 2019) aponta que as regiões Norte (61,4%) e Nordeste (59,7%) são as que mais sofrem com insegurança alimentar no Brasil.

Desafios para reduzir a Insegurança alimentar no Brasil

Os dados apontam que a situação brasileira é preocupante. Há sete anos, em 2014, a FAO anunciou em Relatório Anual sobre o Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo que o país havia saído do Mapa da Fome.

Na época, o Mapa, um grande documento organizado por critérios da ONU que investiga o cenário da fome no mundo , apontava que no Brasil o percentual de população em situação de subalimentação estava abaixo de 5%.

Hoje, no entanto, após mudanças nos critérios da produção deste documento, torna-se complexo afirmar se o Brasil está ou não de volta ao Mapa da Fome.

Entretanto, um estudo da Rede Penssan aponta que o índice de insegurança alimentar brasileiro grave (fome) chegou a 9% no final de 2020.

Para combater a insegurança alimentar e a fome, é preciso ação diante das causas dos aumentos destes índices.

Insegurança alimentar no Brasil 2022 

A pandemia de Covid-19 agravou ainda mais o cenário de fome e insegurança alimentar no Brasil. De acordo com dados do IBGE, o país tem 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer, sendo 14 milhões a mais em insegurança alimentar grave em 2022, na comparação com 2020. 

Além disso, 6 em cada 10 casas não têm condições de manter plena alimentação e possuem preocupação com a escassez de alimentos. 

Por fim, o estudo mostra que 58,7% da população do Brasil convive com algum tipo de insegurança alimentar, grave, leve ou moderada. Trazendo para os números, são 125,2 milhões de brasileiros nesta situação.

Soluções para combater a Insegurança alimentar

A sociedade civil e as instituições privadas podem fazer a sua parte ao combater o desperdício e criar soluções para o acesso a alimentos de qualidade a todos através da tecnologia.

Por exemplo, o iFood, foodtech brasileira, uniu forças com a ONG Ação da Cidadania e empresas parceiras para redistribuir alimentos excedentes em uma série de ações de combate à fome.

O movimento chamado de Todos à Mesa busca conectar a iniciativa privada e organizações sociais para combater a insegurança alimentar e o desperdício.

Com centenas de toneladas de alimentos doados, pretende-se colocar cada mais em debate essa ação facilitada na Lei 14.016. Ela autoriza estabelecimentos que produzem alimentos a doá-los, dentro de condições ideais de conservação e consumo.

A cultura de doação pode contribuir no combate à insegurança alimentar de uma maneira mais horizontal. Em momentos de crise, doações de cunho assistencialista ganham visibilidade, mas elas precisam coexistir com estratégias que alcancem a estrutura do problema.

E a tecnologia se entrelaça às ações de combate à fome quando facilita doações e o acesso daqueles que precisam ao alimento. Em 2021, o iFood doou mais de R$ 7 milhões a partir de um modelo simples de doação no checkout.

Com apenas um clique, após realizar o seu pedido o cliente pode escolher um valor e doar para instituições parceiras. Além disso, vai envolver organizações sociais que trabalham com refeições solidárias, doações de cestas básicas e demais atividades.

O problema da insegurança alimentar é grande e responsabilidade de todos: governos, instituições públicas e privadas. Cobrar a estrutura principal, que é a economia estável e a diminuição da desigualdade. Assim, somando-se atitudes como a contenção do desperdício e uso da tecnologia são o ponto de partida para o combate à insegurança alimentar.

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