Mulheres na tecnologia: cenários e desafios

Veja o que os números dizem sobre a presença de mulheres na tecnologia e quais os desafios ainda encontrados por elas para alcançar o devido reconhecimento e protagonismo no mercado de inovações.

Quantos nomes vêm à sua mente quando o assunto é mulheres na tecnologia? Por uma série de motivos que vamos mencionar a seguir, a tecnologia tem nomes de destaques geralmente com perfis de homens brancos.

Steve Jobs, Bill Gates e Alan Turing são exemplos de nomes mais lembrados acerca de temas tecnológicos. Um grande contrassenso à história que, ao ser recuperada, evidencia que, em todas as áreas da ciência, mulheres se destacaram com contribuições de suma importância.

Inovações, programações e jogos que mudaram o mundo. Mãos e mentes femininas sempre estiveram capacitadas e presentes nas revoluções tecnológicas. Porém, uma narrativa predominantemente masculina faz com que suas participações sejam ofuscadas.

Se, desde os anos 1800, mulheres como Ada Lovelace já demonstravam grande impacto na ciência, como esse cenário se apresenta hoje? Mulheres estão mais presentes no mundo tec?

Veja o que os números dizem sobre a presença de mulheres na tecnologia e quais os desafios ainda encontrados por elas para alcançar o devido reconhecimento e protagonismo no mercado de inovações.

O que é ser mulher na tecnologia?

Mulheres avançam no setor de tecnologia, mas ainda não veem diminuir a diferença salarial em relação aos homens. Um contraste significativo, haja vista que a presença feminina nas instituições de ensino superior é maior.

O levantamento Revelo mostrou que, antes da pandemia, o número de convites a mulheres para vagas nas profissões da área da tecnologia cresceu de 12% em 2017 para 17% em 2019. Já a diferença salarial média, que era de 22,4%, passou para 23,4% no mesmo período da pesquisa.

Durante a pandemia e com o aumento do home office, o setor de tecnologia cresceu, no entanto, isso não reduziu os índices de desigualdade de gênero. Dados da Secretaria Especial da Previdência e do Trabalho mostram que a diferença salarial chega a R$1.700.

Ser mulher na tecnologia é, neste cenário, saber que há grandes chances de ganhar menos do que os homens nas mesmas funções. Essa desvalorização e desigualdade gera um abandono precoce de muitas delas no setor.

O estudo Accenture e Girls Who Code descobriu que metade das jovens que trabalham com tecnologia deixa o setor antes dos 35 anos. O principal motivo apontado por elas foi a cultura empresarial.

O relatório TrustRadius aponta uma lista de empecilhos, como a dificuldade das mulheres de se verem representadas, em uma proporção de 1:5 em relação aos homens nessas empresas.

Além disso, durante a pandemia, 57% das mulheres reportaram estarem em burnout, recentemente classificada como doença do trabalho pela OMS. Isso ocorre ao misturar todas as barreiras já citadas com a carga da crise mundial e as responsabilidades de casa e/ou da maternidade.

Sendo assim, como mudar uma realidade que mais afasta do que inclui mulheres na tecnologia?

Mulheres na tecnologia: como incluir cada vez mais?

Ser mulher na tecnologia não é uma tarefa fácil e elas buscam ter mais tranquilidade para trabalhar neste setor. Para isso, lutar contra os indicadores, que até então marcaram o mercado de trabalho em tecnologia, é o ponto de virada.

É necessário que mais mulheres sejam incluídas em vagas na tecnologia, promovidas, levadas a cargos de chefia e instigadas a permanecer no ramo.

Se a cultura das empresas é a maior razão da evasão das mulheres da tecnologia, regras mais rígidas contra sexismo nas instituições são uma saída.

Além disso, é fundamental capacitar as mulheres cada vez mais, mostrando que não há argumento que possa justificar as desigualdades de gênero e que elas podem ter as mesmas capacidades que os homens nos ramos da ciência, tecnologia e inovação.

É com esse propósito que iniciativas como a Programaria pretendem empoderar mulheres diminuindo as lacunas de gênero no mercado de trabalho oferecendo cursos de programação.

Em 2021, o iFood anunciou seus compromissos públicos e metas de diversidade e inclusão. O objetivo da empresa é ter, até dezembro de 2023, metade dos cargos de liderança ocupados por mulheres e 40% dos colaboradores negros.

História das mulheres na tecnologia

Lembra quando falamos em razões para que, majoritariamente, nomes masculinos sejam aqueles marcados no senso comum quando o assunto é tecnologia?

A razão disso é que a História do mundo e, consequentemente, da tecnologia foram narradas e escritas por homens. A falta de diversidade nas narrativas gera um apagamento de mulheres protagonistas em grandes criações, mas você verá a seguir.

É curioso pensar como até a linguagem condiciona protagonismo aos homens, tal qual a “ida do homem à lua” que, por sinal, tem participação direta de um grupo de mulheres negras.

5 mulheres importantes na tecnologia para conhecer

As mulheres que vamos citar a seguir foram revolucionárias nos seus campos de pesquisa. O que faltava era o mesmo reconhecimento atribuído a seus colegas homens.

Cabe dizer que esse texto traz apenas uma pequena lista como exemplo, mas você pode encontrar muitas outras pesquisadoras e cientistas que fizeram história.

Ada Lovelace:

Em meados do século XIX, Augusta Ada King, uma condessa de Lovelace, analisava materiais matemáticos. Seus estudos resultaram no desenvolvimento do primeiro algoritmo do mundo.

Após sua morte, sua descoberta foi testada e comprovada por cientistas, com computadores mais avançados. Atualmente, ela é conhecida como a “mãe da computação” e existe um prêmio de inovação com o seu nome.

Carol Shaw:

Criadora de Softwares para games e consoles, ela é uma das responsáveis pelo aumento gradual de dificuldade nos níveis dos jogos. Nascida na região do Vale do Silício, em 1955, ela é considerada a primeira mulher a trabalhar com jogos digitais.

Hedy Lamarr:

Uma das responsáveis pelo desenvolvimento das tecnologias de comunicação sem fio. Se temos Wi-Fi e bluetooth, é graças às ações dessa atriz e inventora austríaca. Ela criou um aparelho de interferência de rádio que serviria para despistar radares nazistas.

Mary Keller:

A primeira mulher a receber um doutorado em ciências da computação, em 1965, na Universidade de Washington. Keller contribuiu com a criação da linguagem de programação BASIC, utilizada com fins didáticos e substituída, mais tarde, por outra mais arrojada.

Keller escreveu quatro livros sobre programação e seu nome batiza o Centro de Ciências da Computação da universidade onde atuou por 20 anos.

Grace Hopper:

Pioneira em várias frentes. A primeira mulher a se formar na renomada Universidade de Yale. A primeira almirante da marinha americana. Uma das criadoras do COBOL, linguagem de programação para bancos de dados comerciais.

Mas é com um termo engraçado – que você provavelmente conhece – que destacamos sua principal “criação”. O seu computador já teve um “bug”? O termo teria sido criado por Hopper quando ela resolveu uma falha de processamento, retirando uma mariposa de dentro de um computador. Nunca se confirmou a teoria, mas a origem do termo é creditada a ela.

Mulheres negras na tecnologia

A lista de mulheres que marcaram a História da Tecnologia segue aqui, pois vamos falar de mulheres negras que se destacaram. Nesse sentido, três mulheres cientistas levaram o homem à lua.

Para que Neil Armstrong pudesse dar o “grande salto para a humanidade”, os computadores precisavam ter erro zero. Isso foi possível devido à programação realizada pelas cientistas negras Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson.

Essa história, inclusive, inspirou o filme “Estrelas Além do Tempo”, de 2016.

A história desse trio nos faz pensar na necessidade de inclusão de mulheres negras na tecnologia. Pois, se a figura das mulheres já é menor no cenário das inovações, o das mulheres negras é ainda mais.

A gerente de impacto social do iFood Luanna Luna aponta que “a falta de acesso de mulheres e negros às oportunidades em tecnologia é uma questão histórica no Brasil. Uma consequência da defasagem na educação pública”.

A solução, segundo ela, passa pela educação e inclusão. Fazer com que mulheres negras se reconheçam nos lugares mais altos do mercado de tecnologia. Para não perpetuar as desigualdades sociais do país, algumas iniciativas e empresas buscam virar o jogo, como o iFood.

Mulheres na tecnologia no Brasil

Nos últimos anos, a participação das mulheres na área de TI cresceu 60%, passando de 27,9 mil mulheres para 44,5 mil, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED).

Segundo dados do Banco Nacional de Empregos (BNE), a candidatura de mulheres para vagas no setor de tecnologia subiu de 10.375 em 2020 para 12.716 em 2021, em um período que corresponde aos primeiros cinco meses dos respectivos anos.

Quando olhamos para grandes empresas de tecnologia fundadas ou com sede no Brasil, encontramos várias mulheres em cargos de chefia. Kátia Ortiz, por exemplo, é gerente-geral da operação brasileira da ServiceNow. Já Marcelle Paiva é COO da Oracle.

Na área da pesquisa, destaca-se Cláudia Maria Bauzer Medeiros, doutora em Ciência da Computação pela Universidade de Waterloo e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Computação. Ela possui uma série de reconhecimentos internacionais por suas pesquisas e pelo incentivo à participação de mulheres na TI.

A importância das mulheres na tecnologia

A importância das mulheres na tecnologia, além das inovações que já trouxeram ao longo da história e por um mundo mais igual, sem desigualdade de gênero, também é preencher uma demanda do mercado.

Existe um grande déficit de profissionais de tecnologia no mercado. Segundo a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), os números podem chegar a falta de 70 mil profissionais por ano.

Uma maneira direta e eficaz para o preenchimento dessas vagas é incluir mais mulheres qualificadas no setor, além de encorajá-las a não desistir precocemente.

Com empresas mais diversas e inclusivas, a estimativa da Accenture é de que poderá haver 3 milhões de mulheres trabalhando com tecnologia em 2030 no mundo.

Mulheres empreendedoras na tecnologia

Uma mulher na sala pode fazer toda a diferença. Assim como uma no topo, uma na tela ou no banner. Ações empreendedoras de mulheres podem colocá-las em lugares onde uma onda de mudanças acontece.

Os números, entretanto, ainda são modestos quando falamos de representatividade feminina no empreendedorismo. O Female Founders Report 2021, uma parceria da Distrito com a Endeavor, mostrou que apenas 4,7% das startups são fundadas exclusivamente por mulheres.

E o que é pior: as startups comandadas por elas receberam apenas 0,04% do total aportado em 2020. Essa é uma realidade muito distante do ideal para o mundo da tecnologia, onde incontáveis startups surgem dia após dia trazendo inovações que impactam nossas vidas.

Conhecer mulheres que impactam o mercado de inovações e criar redes de mulheres empreendedoras é apenas mais um dos passos que pode representar um giro de chave no setor da tecnologia.

 

 

 

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