“Queremos oportunidades iguais para todas as mulheres”

Vanessa Moreira, líder do Empodera Elas, fala sobre como esse grupo do Pólen debate a equidade no trabalho

O Empodera Elas foi o primeiro comitê do Pólen, que reúne grupos formados por colaboradores do iFood para discutir questões ligadas a pessoas negras, LGBTQIAP+ e com deficiência e ao corpo livre. 

A iniciativa, criada em 2017, visava comunicar as necessidades das mulheres à liderança da empresa. Cinco anos depois, é acompanhada por mais de mil mulheres (desde estagiárias até diretoras), e seus encontros mensais estão virando quinzenais.

“A partir de agosto, um deles será sempre focado em maternidade, que é uma demanda muito forte, e o outro vai abordar os temas gerais, para movimentar as discussões de gênero”, explica a atual líder do Empodera Elas, Vanessa da Silva Moreira, executiva de contas estratégicas do iFood. “Queremos empoderar as mulheres e criar um ambiente de equidade no trabalho.”

Quando ela diz “mulheres”, é assim mesmo, no plural, tratando de questões específicas das que são mães, negras, trans, LGBTQIAP+ ou têm uma deficiência, entre tantas outras. Em entrevista ao iFood News, ela fala sobre a importância dessa diversidade e de engajar os homens e as lideranças nesse movimento.

iFN – Como começou sua história com o Empodera Elas?

Vanessa – Entrei no iFood em 2018 e passei a fazer parte do Empodera Elas em 2021. Em 2020, tive minha filha e voltei da licença maternidade em dezembro. No comecinho de 2021, descobri que havia um canal só de mulheres no Slack [aplicativo de mensagens usado na empresa] e entrei, tanto para saber o que estava rolando como para ter uma rede de relacionamento, porque fico em Salvador e queria expandir o meu círculo.

Para minha surpresa, as conversas eram bem variadas. Tinha discussão sobre maternidade, carreira, assédio, teorias de gênero no mercado de trabalho, diferença de oportunidades entre homens e mulheres. Não era sobre o iFood, era sobre tudo o que as mulheres tinham vivenciado em suas trajetórias até ali. 

Uma história que me marcou foi a de uma profissional dizendo como foi desafiador deixar de alisar o cabelo cacheado e passar pela transição capilar, como isso refletia na sua autoestima e na posição de liderança, porque isso mexe com a confiança de toda mulher. Eu gostei de saber que havia dentro da empresa um espaço para falar desses assuntos positivamente. Senti que era um ambiente seguro para compartilhar experiências. 

iFN – E hoje, qual é o objetivo do grupo?

Vanessa – Queremos empoderar as mulheres e criar um ambiente de equidade no trabalho, que seja acolhedor para todas, em todos os recortes: mulheres negras, mães, trans, com deficiência. Na nossa conversa para pensar o Pólen no início de 2022, falamos muito de interseccionalidade, que é uma questão muito forte hoje. Vamos falar de todas as mulheres para que todas possam se identificar com o grupo. 

Nas nossas discussões, queremos trazer vozes de mulheres diversas e falar também de corpo livre, gordofobia, temas da comunidade LGBTQIAP+. É preciso olhar para mundos diferentes e descobrir como a gente pode se ajudar para ter um ambiente melhor, uma sociedade melhor.

Aqui, a gente fala sobre a importância de as mulheres se unirem e de haver vagas afirmativas. É preciso aceitar que existe uma desigualdade entre os gêneros e entender como homens e mulheres podem atuar para ter equidade. 

O iFood tem suas metas para aumentar a inclusão das mulheres. O que nós fazemos é ajudar a alcançá-las promovendo educação para ter um ambiente propício para as mulheres. Nosso papel é olhar para como as mulheres são recepcionadas, acolhidas, como são tratadas aqui dentro.

Um exemplo: minha filha começou na escolinha na semana passada. Então eu trabalhei todas as manhãs da recepção da escola porque ela estava em adaptação. Isso nos faz pensar: como é que um líder está olhando para isso? Quando recebemos uma mulher transgênero, o iFood acolhe e dá ajuda financeira para a transição. Mas como é o ambiente quando ela retorna ao trabalho? É preciso ter uma cultura de valorização e de respeito de todas as mulheres.

iFN – Como essas questões são levadas à liderança?

Vanessa – A partir das nossas conversas nos encontros mensais, tem uma reflexão própria, que cada uma leva para si, e surgem também os temas que podemos endereçar para a área de Diversidade e Inclusão ou para a de Pessoas, especialmente quando falamos de benefícios.

Procuro levar para as lideranças quais são as nossas necessidades e as nossas ideias sobre o que está funcionando e o que pode ser melhorado. Dessa forma, colaboramos para aperfeiçoar as políticas internas, os benefícios, a oferta de vagas afirmativas para mulheres. E isso está acontecendo no iFood. Aqui em Salvador, no meu time, abrimos recentemente uma vaga para uma mulher que fosse mãe, para ter mais diversidade. Do time de executivos, só eu sou mãe atualmente.

iFN –  Como é o diálogo com os homens na empresa?

Vanessa – No iFood existem lideranças que fazem uma defesa muito forte das metas de diversidade. Neste momento, nosso desafio é ampliar as conversas com a média liderança para que esse ambiente mais diverso seja uma realidade. 

Não adianta ter só as mulheres discutindo. Não vamos mudar o mundo apenas com as mulheres olhando as questões femininas, as pessoas negras e asiáticas olhando para o racismo ou apenas a comunidade LGBTQIAP+ fazendo a sua Parada do Orgulho Gay. A gente precisa do envolvimento de todos. 

Eu acredito que temos que trazer todo mundo para o papo. Se a sociedade é diversa, a empresa também deve ser. Se você não pertence àquele grupo minorizado, entre no fórum geral para saber como é. Os homens precisam conhecer a realidade das mulheres para ter empatia. Com essa empatia podemos trazê-los para a mudança que a gente quer que aconteça.

iFN – Como os homens podem ser aliados das mulheres no ambiente de trabalho?

Vanessa – O homem pode ser aliado quando respeita a mulher, quando não faz comentários sexistas, por exemplo. Quando líder, pode criar vagas afirmativas ou, pelo menos, condições iguais de trabalho. 

Se uma colaboradora é mãe e não tem flexibilidade de horário, esse gestor está tirando oportunidades dela. Um colaborador solteiro parte de um lugar diferente do da mulher casada com filhos. Então é papel do líder criar um ambiente flexível para que as pessoas de recortes diferentes façam as suas entregas. Não dá para criar um ambiente único, uma caixinha padronizada, sabe?

iFN –  Qual é o seu sonho grande?

Vanessa – Meu sonho grande, grande, grande é ter um Empodera Elas só para falar de amenidades [risos]. Porque isso significa que a gente terá resolvido as questões de gênero, vai ter equidade, e o grupo vai ser um espaço para a gente dar risada ou para falar das dificuldades humanas, e não só de gênero.

Depois que eu me tornei mãe, percebi que participar do Empodera Elas é minha oportunidade de  contribuir com uma causa maior. Estou plantando sementinhas para que a minha filha, que hoje tem dois anos, possa ter um mundo um ou dois degraus melhor do que o que nós estamos tendo.

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