O que é o capitalismo consciente na Nova Economia?

Em entrevista, Diego Barreto, vice-presidente de Finanças e Estratégia do iFood fala sobre os desafios e as oportunidades desse novo modelo

Em agosto de 2022, o iFood se associou ao Instituto Capitalismo Consciente Brasil e entrou para a lista de empresas que reconhecidamente adotam uma causa como seu propósito e se comprometem a gerar valor para todas as pessoas envolvidas em seu negócio, desde os clientes até os acionistas e a sociedade.

A adesão da empresa a esse movimento, iniciado há mais de uma década nos Estados Unidos, é consequência natural da forma como enxerga o papel da iniciativa privada na sociedade. Com o “sonho grande” de “alimentar o futuro do mundo” não é de hoje que o iFood vem assumindo compromissos com seus stakeholders

Parte dessas iniciativas, e seus resultados, estão reunidos no Relato de Impacto, primeiro relatório ESG da companhia, que acaba de ser lançado e que detalha o impacto de suas ações em Educação, Meio Ambiente e Inclusão desde março de 2021 até o momento. 

Mas, afinal, o que o Capitalismo Consciente, enquanto filosofia de negócios, significa na prática para uma empresa de tecnologia já comprometida com a questão da geração de valor à sociedade? 

Em entrevista ao iFood News, Diego Barreto, vice-presidente de Finanças e Estratégia do iFood e autor do livro “Nova Economia”, explica quais são os desafios de fazer parte desse movimento e as oportunidades que só uma empresa ágil pode aproveitar.

iFN – O que significa o Capitalismo Consciente na Nova Economia?

Diego – A diferença da Nova Economia para a “velha” economia é que, via de regra, ela pressupõe uma mudança muito forte em uma série de paradigmas da sociedade, tanto do ponto de vista comportamental como do regulatório. E é exatamente isso o que difere o capitalismo consciente na Nova Economia: ela não só muda a sociedade mas também tem que lidar com as consequências dessas mudanças.

É aí que vem a grande discussão. Precisamos não só fazer a mudança para o bem, equilibrando todos os stakeholders, mas também criar as estruturas para isso e nos preocupar, nessas mudanças regulatórias e comportamentais, com uma visão que ainda nem existe.

Um exemplo: quando se pensa na gig economy, sob a ótica do trabalho sob demanda, isso não existia no Brasil há dez anos na forma como vemos hoje. O iFood e outras empresas começaram esse processo de mudança sem nem ter experimentado. É muito mais complexo do que simplesmente fazer algo que já existe. Essa é a diferença.

iFN – Quando se pensa no trabalho na gig economy, quais são os desafios para esse modelo?

Diego – Os brasileiros têm uma noção de trabalho que já é sedimentada. As pessoas trabalham em um horário contratado, geralmente por cinco ou seis dias por semana. Nós nos acostumamos a trabalhar de uma forma que não leva em conta a demanda do empregador. 

O grande ponto é que a gig economy está mudando o conceito de como os trabalhadores se relacionam com o seu tempo e com as empresas. A legislação não está pronta para isso e as pessoas estão se adaptando. 

Então existe uma questão, que é entrar em consenso com a opinião pública sobre esses conceitos, e outra que é a discussão de uma construção regulatória. Dentro desse conceito, precisamos definir valores, o que cada parte vai trazer para a mesa, o que cada um considera aceitável ou inegociável.

iFN – Quais pontos do capitalismo conscientes são mais fáceis de colocar em prática? E os mais difíceis?

Diego – De tudo o que envolve o capitalismo consciente, o tema que está mais avançado —eu não diria fácil— é o da diversidade, porque isso já está em discussão nas empresas brasileiras há mais de uma década. Está longe de estar perfeito, mas está caminhando.

O ESG [governança ambiental e social] é outro tema que também já avança no Brasil, as ações já começaram. A discussão da gig economy, não. Essa ainda está nos seus primórdios, o Estado brasileiro nem parou para olhar esse tema. É esse o grau de maturidade que eu enxergo em cada uma dessas três grandes discussões que temos hoje no iFood.

iFN – De que forma o capitalismo consciente vai além do ESG?

Diego – Eu acho que é o timing, é encontrar o tempo certo para as coisas. O modelo anterior de capitalismo era um sistema que fazia as coisas e, décadas depois, olhava para trás para ver o que deu errado e começava a pensar em como poderia resolver aquilo. O capitalismo consciente pressupõe um timing diferente. Ninguém vai começar, do zero, a coisa mais perfeita possível, é impossível cobrar isso dos seres humanos, é complexo.

O que funciona é agir o mais rapidamente possível. O iFood hoje faz um trabalho muito relevante em tudo o que envolve a redução do uso de plástico, tanto melhorando o produto como fazendo com que o consumidor peça menos itens de plástico como fazendo parcerias relevantes, como a da Suzano, para levar para o restaurante, a um preço aceitável, materiais que o substituam.

Na lógica do capitalismo, uma empresa como a nossa, com dez anos de existência, é um bebê e não deveria nem estar se preocupando com essa questão. Já na lógica do capitalismo consciente, as empresas antecipam as soluções.

Meu time hoje tem 55% de mulheres na liderança e 35% de pessoas negras. Esse é um número muito especial para uma empresa com dez anos de idade, que nesse estágio de consolidação do negócio, deveria estar com a cabeça em outro lugar. No capitalismo consciente, você antecipa esse timing.

iFN – Ser uma empresa de tecnologia ajuda a seguir a cartilha do capitalismo consciente?

Diego – Não é que ajuda: resolve. Ser uma empresa de tecnologia nos dá dois atributos. O primeiro deles é a capacidade de definir o “o quê”, o “quando” e o “como”. Se neste momento eu quiser mudar um atributo do aplicativo do iFood, é só ir lá e alterar. Instantaneamente, 44 milhões de brasileiros que usam o app por ano serão afetados por essa mudança.

A capacidade de poder mudar o produto instantaneamente é sensacional, tanto para ter ideias que podem gerar impacto como corrigir erros. Além disso, a tecnologia tem escalabilidade. Se a minha solução der certo, ela sai de 40 milhões de brasileiros e vai para 100 milhões de um dia para o outro. A empresa física vai levar alguns anos para construir um novo prédio, uma nova fábrica. Nós, não.

iFN – De que forma o iFood já está gerando valor para os stakeholders

Diego – De várias formas. A primeira delas é ter uma grande capacidade de escuta. A partir do momento em que escutamos bastante, ganhamos capacidade de fazer os ajustes necessários da maneira correta.

O segundo ponto é a capacidade de ajustar o produto para ter resultados espetaculares. A mudança que fizemos para reduzir o envio de itens de plástico em 2021 impactou 200 milhões de pedidos. É um impacto gigante.

Quando se pensa na capacidade de fazer parcerias, essa agilidade típica das empresas da Nova Economia nos leva a achar soluções quando, individualmente, isso levaria anos. A parceria que fizemos com a VOLTZ para desenvolver a moto elétrica teve esse efeito. Foi preciso haver uma integração entre empresas para gerar uma solução como essa.

iFN – Você está otimista com os caminhos do iFood no capitalismo consciente?

Diego – Tenho segurança, não é otimismo. Eu conheço os acionistas, conheço a administração da empresa. Olhando quem são as pessoas e quais são os seus valores, é daí que vem essa segurança.

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