“Não tenho medo de testar o novo”

Conheça a história de Inajá Morais, ex-advogada e produtora de eventos que deu uma guinada na carreira e hoje trabalha com inteligência artificial no iFood.

Conheça a história de Inajá Morais, ex-advogada e produtora de eventos que hoje trabalha com inteligência artificial no iFood —e sonha ser CEO de uma unicórnio

Ao longo da vida, nossa trajetória geralmente se divide em três fases: uma dedicada à educação, outra para o trabalho e a última para a aposentadoria. Inajá Morais, Data Scientist Jr. do iFood, é um exemplo daquelas pessoas que resolveram subverter essa ordem. 

O início da sua vida profissional até que se encaixou nesse padrão. Há 25 anos, ela se formou em Direito, área em que trabalhou por uma década, até perder um pouco do encanto com a profissão. 

A partir daí, sua vida virou uma sucessão de começos e recomeços profissionais, até que passou a trabalhar com inteligência artificial no iFood. Quem diria que uma advogada um dia faria carreira em tech depois dos 40?

Entre uma profissão e a outra, Inajá também foi produtora de eventos e trabalhou como cerimonialista em Sorocaba (SP), ao lado de uma amiga que havia se formado com ela e que também não atuava mais na área. “A gente falava, na brincadeira: ‘olha, se vocês precisarem, depois vocês podem voltar aqui que a gente faz a separação também. Não tem problema que a gente também é do Direito”, diverte-se. 

Essa parceria durou alguns anos, até que Inajá resolveu mais uma vez mudar de área e passou a ser produtora cultural —profissão que hoje concilia com sua atuação no iFood. “Fazia produção de eventos, clipes, making of, comerciais e também me juntei a uma companhia de teatro, atuando nos  bastidores”, lembra. Até que veio a pandemia.

Concurso? Que nada!

Distanciamento físico, casas de shows e teatros fechados… O trabalho parou. “Passava os dias sem fazer nada, só nas redes sociais procurando o que fazer. Numa dessas, vi um post do iFood anunciando vagas para aprender sobre machine learning e inteligência artificial e convidando para fazer inscrição”, lembra Inajá.

Era um curso de educação tecnológica, o Vamo AI, programa do iFood em parceria com o Resilia Educação para formar pessoas de baixa renda, preferencialmente mulheres e pessoas pretas, em desenvolvimento backend. Inajá, mulher, homossexual e pessoa preta, cumpria os requisitos —além de ter interesse em computação.

“Na verdade, quando tudo parou, minha ideia era prestar um concurso na área de Direito”, explica. Mas, assim que fez a inscrição e passou no curso preparatório, uma outra ideia pareceu mais tentadora. “Eu falei: ‘vou poder mudar completamente de carreira numa área em que tenho um interesse absurdo e da qual nem imaginei que pudesse fazer parte’. Eu achava que só quem era muito novo poderia entender desse tipo de coisa.”

Inajá conta que faz parte da turma que teve contato com computação “quando tudo isso aqui era mato”. Ou seja, quando o sistema operacional vigente era o MS DOS, as telas dos monitores exibiam caracteres verdes, a televisão era o principal meio de comunicação, celulares nem eram imaginados e a internet, discada, tinha uma velocidade que hoje o 5G atinge em uma fração mínima de tempo. “Nasci analógica e hoje sou completamente digital. Então eu sou um ser híbrido: analógico-digital”, diz a Food Lover.

Reaprender a aprender

Quando foi fazer o curso, em 2021, Inajá nada sabia de programação. Depois de seis meses de estudo, o início do trabalho e os cursos de atualização na plataforma de ensino da empresa, hoje ela já sabe um bocado de coisas. “Meu desenvolvimento em 2022 é absurdo. Quando olho para trás, vejo que, há um ano, eu era completamente diferente do que sou agora”, diz.

Quem vê de fora, pode achar que esse processo de mudança de área, já quase na reta final da fase de trabalho daquele padrão descrito no início do texto, foi fácil. Só que não.

“Eu tive que aprender a aprender nesse novo modelo em que tudo é online. A última vez que eu tive de estudar foi na faculdade, indo à biblioteca. Em alguns momentos, achei que fosse desistir”, confessa. 

Além da adaptação ao novo jeito de estudar, Inajá perdeu pessoas queridas para a Covid-19. Em uma mesma semana, ela diz, 15 amigos se foram, todos vítimas da doença. “O senso de comunidade que existe na área de tecnologia foi imprescindível para eu não ter desistido.”

“Não tenho medo de testar o novo”

Ao longo dos seus quase 47 anos (que serão completados em 31/7), Inajá mostra que a trajetória profissional pode, sim, sair do padrão. A educação pode acontecer na juventude e na maturidade. Mudanças de área de atuação vêm a qualquer momento. 

“Não tenho medo de testar o novo. Saí de uma área super estruturada, que é o Direito, para outra incerta, que era a de produção de eventos. E depois para outra mais incerta ainda, a de produção cultural. Entrar no mundo da tecnologia foi mais uma coisa para eu colocar na minha vida”, diz.

Inajá foi a aluna mais velha do Vamo AI e isso, ela garante, não afetou sua integração com colegas. Nem fez diferença na sua contratação. Na verdade, talvez tenha feito sim, mas a favor da diversidade

“Tenho alguns skills que talvez os mais jovens não tenham. Uma visão de mundo que faz diferença na hora em que vou formular uma pergunta para o banco de dados do iFood. Hoje conseguimos extrair infinitas informações dos dados se fizermos as perguntas corretas. É aí que está a habilidade do cientista de dados”, explica.

Se Inajá acredita que profissionalmente está em um nível melhor do que há um ano, a mesma sensação ela tem também no lado pessoal. “Foi incrível porque isso gerou uma mudança absurda, de qualidade de vida mesmo. Aqui, tenho apoio psicológico, o trabalho é valorizado e recebo o justo. Com esse apoio, se trabalha muito melhor”, diz.

Não ter medo de novidades fez Inajá encontrar uma nova profissão, melhorar a qualidade de vida, descobrir o que e quem ela ama de verdade (“me descobri homossexual aos 38 anos”), se abrir para as pessoas e, agora, traçar planos ambiciosos para a segunda metade da vida. 

“Imagina daqui a um tempo vocês me entrevistam e eu estou, sei lá, surfando?”, brinca. “Aos 50 anos quero ter uma empresa unicórnio. Como isso vai acontecer? A gente não sabe, mas o plano é esse”, planeja a analista de dados. Na verdade, ela meio que já tem um plano, que envolve investir em seu desenvolvimento, no aprendizado e na melhoria nas suas habilidades na área de tecnologia. 

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